Stand-up drama: Nanette (2018)

By Lu Xavier - agosto 18, 2018


A internet inteira já deu a sua opinião formada sobre o especial de stand-up (comedy?) da australiana Hannah Gadsby na Netflix. É o must-have (ou must-watch!) do humor. 

"Todo mundo precisa assistir"
"É um soco no estômago"
"Oh meu Deus! Alguém precisava falar sobre isso"
"O humor tem que acabar mesmo!!!!11"

Ok. Me deixa um tanto curiosa (na verdade, não) como certas opiniões são reproduzidas em blogs não especializados que querem surfar na euforia. Mas agora que sou um blog especializado, também quero dar meu pitaco:

Achei importantes as questões que ela levantou, mas sinto que ela parte de uma premissa equivocada.
Ela assume que precisa abandonar a profissão de comediante porque a piada traz "suavidade" para o que não deveria ser encarado dessa forma. E daí ela traz questões bem relevantes para reflexão até do ponto de vista intelectual, passando do feminismo, lesbianismo até a história da arte. Hannah Gadsby quer dar um basta na forma irresponsável como a comédia trata assuntos sérios (seríssimos).

Tudo o que ela falou foi especial, necessário (sim) e me emocionou. Mas.
Me pareceu uma generalização não suficiente para se abandonar a comédia como forma de expressão. Ela mesma pode mudar o jeito de se fazer comédia sem precisar usar do autoflagelo. Abandonar a comédia me parece uma opção contraproducente.
Entendi de forma particularizada: que ela sente necessidade de buscar outra coisa na vida. Ok, é um momento pessoal. E merece todo o apoio.
Porém, é temerário universalizar. Acredito na função social do humor não só para quem recebe a piada, mas também para quem a faz; ajuda a elaborar os traumas, mesmo com relação a assuntos tão sérios (e que não perdem sua seriedade mesmo que considerados num enquadramento cômico).

Por fim, concordo com todas as resenhas da internet que colocam o especial Nanette como icônico. Sim, é. Se puder assistir, o faça e se permita provocar e constranger pelo riso no melhor sentido que a arte proporciona. Na minha opinião, o especial é um marco na história do humor e é impossível assistir sem refletir sobre tudo o que foi abordado. Nesse sentido, Hannah Gadsby conseguiu executar a sua proposta com maestria e merece, sim, toda a reverência que lhe é atribuída.


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