Stand-up Comedy fora do eixo Rio-SP

By Lu Xavier - maio 05, 2019



Há algum tempo conversei com o comediante Israel Faccin no Instagram, que me sugeriu escrever sobre comediantes do interior do Brasil e como eles produzem. 

Do interior de Minas Gerais, Israel começou nesta vida tentando fazer comédia em eventos formais (premiações, solenidades), já que não existia uma cena de comédia local. O resultado não foi bom, mas a vontade de Israel era tanta que ele próprio decidiu organizar noites de comédia na sua cidade, em parceria com bares. Mais uma vez, o que faltava era um público engajado para a comédia. Com o tempo, Israel encontrou outro comediante da região e tornaram-se aliados.

Israel Faccin em noite de stand-up comedy em Viçosa-MG (Crédito da foto: Nilo Lima)

Essa história poderia ter sido na Bahia, em qualquer outro estado do Nordeste ou do Norte, ou mesmo em qualquer cidade do sul-sudeste-centro oeste que não contam com um cenário de stand-up comedy consistente na sua programação cultural.

Fato é que, se você não está no eixo Rio-São Paulo, as dificuldades aumentam bastante. Não que seja fácil pra quem está no Rio ou em São Paulo, mas só o fato de não haver clubes de comédia nas outras localidades, faz com que quem queira iniciar na carreira precise ser proativo na promoção das apresentações e mantenha altas doses de motivação para continuar seguindo em frente depois de inúmeras tentativas.

Decidi que eu precisava conhecer os comediantes do meu próprio interior (Bahia), e, mesmo morando na capitar (Salvador), a gente sabe que não é aqui que um olheiro da Netflix vem caçar talentos.

Estive na última sexta-feira numa noite de piadas inéditas do Bloco de Notas, um evento de comediantes baianos que ocorre no espaço cultural Porto dos Livros, em Salvador. Seu idealizador, Matheus Buente, faz parte do grupo baiano de stand-up comedy Vatapá Comedy Club. A iniciativa é  muito louvável, não só como teste de piadas novas, mas porque também abre espaço de open mic  (microfone aberto) para novos comediantes.

Matheus Buente, ao microfone, idealizador do Bloco de Notas em Salvador-BA

Aproveitei para conversar com a Renata Laurentino, comediante que se tornou uma das realizadoras do Bloco de Notas. Renata, que começou fazendo aulas de teatro improviso, faz stand-up comedy há cerca de 8 anos. Contou que ainda há dificuldade com relação ao engajamento de empresários e produtores, mas que o público baiano já vem acolhendo melhor o stand-up comedy

Ou seja, aqui em Salvador começar está mais fácil hoje que há uma cena mais ativa, pois não faltam oportunidades não só no Bloco de Notas, mas em outros eventos como a Noite de Comédia, show fixo de open mic que acontece no Bonocô Center. Também é possível acessar a página do facebook Comedy SSA, para ficar por dentro e entrar em contato com a galera da comédia.

Difícil mesmo é seguir na carreira como única profissão, pois muitos comediantes, inclusive mais conhecidos do público, ainda precisam manter um emprego durante o dia ou realizar outros trabalhos paralelos. Mas é um crescente: fortalecendo a cena local, vai melhorando para todos. Me parece que é o que ocorre em Curitiba - PR, que é tida, inclusive, como a pioneira do stand-up comedy no Brasil.

E sobre ser mulher fazendo stand-up comedy? Não tenham dúvidas de que Renata é praticamente rainha absoluta do stand-up baiano. Contou que sente falta de ver mais participação feminina e reconhece que o machismo por parte da sociedade dificulta à própria mulher ser engraçada e falar o que pensa, mas que uma vez dentro da noite da comédia ela se sente bem aceita e acolhida pelos colegas e pelo público.


Renata Laurentino, representatividade feminina forte no stand-up comedy baiano

Se existe uma lição que fica para quem quer seguir na carreira é a de enxergar os outros comediantes da sua cidade como seus aliados, e não como seus concorrentes. Afinal, ninguém cresce sozinho. 



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